Saturday, October 15, 2011

A conto by Dhruv Usgaonkar

Suraiya desligou a televisão e pousou a sua taça vazia de iogurte de morangos. Ela acabou de ver um dos seus filmes favoritos em HBO, ‘Notting Hill’. Ela adorava as Comédias Românticas, especialmente ‘Bridget Jones’ Diary’ em Inglês e ‘Jab We Met’ em Hindi. Ela deitou no sofá, o sabor do iogurte de morangos ainda demorando na sua língua. Ela acariciou os seus compridos, direitos cabelos pretos, os seus olhos grandes e redondos fitando vaziamente a um póster de Leonardo di Caprio no muro do seu quarto, mas a sua mente estava perdida num outro lugar, como estava muitas vezes. Ela levantou o seu Nokia 3110c que já estava decorado com autocolantes e corações (ela estava a procurar-lhe uma cauda vermelha) e ligou um número que conhecia muitíssimo bem.

Prafful estava no meio duma operação importantíssima. Ele olhou no seu espelho da mesa e abriu o seu olho esquerdo com os seus dedos da mão esquerda. E depois recebeu o choque da sua vida. Um velhote estava a gritar atrás dele em Concanim no sotaque de Saxtti: “Ê Bhau, arê fone aila tuca, ghé maré begin...!”. O lente de contacto caiu do seu dedo. Extremamente irritado, ele olhou ao seu LG Shine para ver quem ligara, e suspirou.

Desde que ele e Suraiya conheceram-se no Primeiro Ano do colégio há 2 anos, eram amigos de alma, mesmo que fossem completamente diferentes, em todas as maneiras: aparência, personalidade, gostos. Prafful era baixo, claro, com olhos quase Mongolóides, e ela era mais alta, morena e bonita. Prafful dizia que ela parecia como uma actriz de Tollywood. Também quanto à personalidades, eram diferentes: ele tinha os seus pés firmamente na terra, não muito extrovertido, e controlado pela cabeça. E por isso, era uma surpresa que eles eram tão amigos, sem qualquer sentimento amoroso. Eles ligavam-se pelo menos 2 vezes por dia.

Prafful abriu a escorrega do seu Shine e ladrou, sem qualquer ‘Hello’ ou ‘Está?’:
- “Eu estava a meter os lentes nos meus olhos!”
- “Oh, peço desculpa! Eu queria saber do teu projecto do ano. Porque amanhã vamos ser divididos em grupos, dependendo dos assuntos dos projectos, não é?
- “Sim, eu sei. Tu não vais estar no meu grupo, porque já tenho o meu. Vê amanhã quem escolheu o teu tópico.”
- “Tá bem. Até amanhã.”
Mas de repente, Prafful sentiu-se brincalhão e sorriu a ele mesmo, tornando cor-de-rosa.
- “Espera aí. Sabes, ainda não voltaste o favor do ano passado.”
- “Qual favor?”
- “Lembras-te como me convenceste ir contigo para ‘Confessions of a Shopaholic’? Eu saí do cinema com uma dor de cabeça! E por isso, agora tens que ir comigo para um filme que eu quero.”
- “Ha! Eu não vou para os teus filmes de acção e ficção científica! E falando daquele dia, lembras-te o que aconteceu? Tu chegaste tarde para o filme, e por isso eu pagara o teu bilhete. E após o filme, tu disseste que detestaste o filme tanto que não quiseste me pagar para o bilhete! Ainda me deves Rs 120, Sr Prafful!”
- “He he! Reparo que a tua memória ainda está aguda. Até amanhã. Tchau.”

Suraiya não esteve muito contente quando saiu do colégio com Prafful depois das aulas.
- “Viste quem está no meu grupo?”
- “Sim, Pankaj. Não o conheço muito bem.”
- “Mas me diz o sabes dele. Ele esteve na Alta Secundária contigo, não é?”
- “Suraiya, não importa por quanto tempo conhece uma pessoa. Bem, Pankaj sempre era...como é que eu digo...o ‘diferente’ da aula. Ele pensa lateralmente e faz tudo que os outros não fazem. É um radical.
- “Xi saibá, será um pouco difícil. Ele convidou o grupo à sua casa esta tarde para discutirmos o projecto.”

Suraiya passou a tarde anciosa. A descrição de Pankaj fê-la nervosa, porque ela teria de trabalhar com ele por um ano inteiro. Mesmo que estivessem mais 3 pessoas no grupo, Pankaj foi o líder, que significou que ele conceberia planos extraordinários, e logo difícis, que faria o trabalho dos outros ainda mais difícil. Ela deu ignição ao seu Honda Dio e seguiu as direcções que Pankaj dera ao grupo chegar à sua casa. Ela precisou dum tempo encontrar o prédio, e depois, o apartamento. Ela tocou a campaínha, e a porta abriu. E pelos próximos segundos, Suraiya foi colada ao chão como uma estátua. Ela pensou que Cúpido abrira-lhe a porta. Foi o mais bonito rapaz que ela vira na sua vida. O seu pele era tão claro, quase tão branco como o leite, e parecia tão mole como o dum bebé. Os seus olhos eram vítreos, e verdes. Ela podia ver a sua reflecção naqueles olhos. O seu cabelo era castanho, e parecia tão liso como a seda.

“Sohan, quem está à porta?” E foi como se Pankaj partisse um painel de vidro na cabeça dela. A voz de Pankaj quebrou aquele momento especial. Suraiya sentiu um balão expandindo dentro dela; ela nunca sentiu tão leve na sua vida.
- “Dada, é uma das tuas colegas.”
- “Ah, entra, Suraiya. Os outros estão a chegar.”
Mas a mente de Suraiya estava naquele rapaz.
- “Pankaj, é teu irmão? Ele é muito bonito.”
- “Ah sim, pois é. Ele chama-se Sohan. Tem 12 anos e estuda a sétima aula. Sohan, esta é Suraiya, minha colega no colégio.”

Suraiya não conseguiu concentrar na discussão do projecto naquele dia. Logo depois de chegar à sua casa, ela informou Prafful.
- “Suraiya, tu estás louca!? Tu desejas um miúdo de 12 anos?! Sabes que te tornas uma pedofile?”
- “Sim Prafful, eu sei, mas estou completamente apaixonada. Eu vou esperar-lhe fazer 18 anos. Não me importo o que os outros dizem ou crêem. Eu vou ganhar o seu amor mesmo que me leve anos. E vou ganhar a aprovação de Pankaj também.”
Prafful desligou numa cólera. Àquela noite, Suraiya não conseguiu concentrar em qualquer coisa; nem televisão, nem filmes, nem as suas favoritas gambas fritas para jantar.

Ela não encontrou Sohan em Facebook, e sabia que ele não tem o seu telemóvel próprio. Ela passou toda a noite dando voltas na cama pensando como é que ela podia encontrar com Sohan, que significava ir à casa de Pankaj. Ela não ficou contente quando Pankaj anunciou ao grupo que as reuniões para discussão do projecto seriam em rotação na casa de cada membro do grupo. Ela começou ficar melancólica e perdeu interesse em tudo. Prafful tentou distrai-la com várias coisas, mas não conseguiu.
- “Prafful, não vale a pena, ‘tá bem? Eu tenho que estar com ele. De qualquer maneira, sabes o que significa ‘Sohan’, não é?”
- “Sim, eu sei que significa ‘namorado’. Suraiya, regressa à terra, se faz favor. Sabes que podes ser presa para pedofília? A tua família vai mandar-te à rua. E depois o que farás?”
A provocação atingiu o coração de Suraiya. Ela resolveu tentar esquecer-se do rapaz.

Contudo, o mais que ela tentou esquecer-se de Sohan, aconteceu o contrário. Ela começou contar os dias no calendário até a próxima reunião na casa de Pankaj. Quando o dia chegou finalmente, tornou-se impacientíssima. À tarde, levou o saco, as chaves da mota, e quase engoliu o omelette que a sua mãe lhe preparara. Ela fugiu da casa, e obviamente chegou cedo à sua destinação. Sohan abriu-lhe a porta, e ela sentiu-se voando no ar. Ela abriu a boca falar, mas não conseguiu. Foi Sohan que quebrou o silêncio.
- “Tu és Suraiya, não és? Dada saiu por um bocado. Espera na sala.”
O apartamento pareceu-lhe vazio.
- “Sohan, não está ninguém na casa?”
- “Não. Momma e Papa ainda não voltaram do trabalho. Dada vai regressar logo.”
O sangue de Suraiya começou circular depressa a estas palavras. Ela viu Sohan entrar no quarto, e seguiu-o instinctivamente. Ela viu-o lendo alguns livros na sua mesa de estudar.
- “Tu estás a fazer o trabalho de casa, Sohan?” Ela perguntou sem se aperceber o que dissera.
- “Sim, é Matemática. É tão difícil. Dada não me ajuda. Diz que eu devo fazê-lo eu mesmo, para eu aperfeiçoar. Mas acho Geometria difícil.”
- “Posso te ajudar. Eu faço o bem.”
- “Oh, muito obrigado!”
Ela aproximou-o de atrás e encostou sobre ele. Ela sentiu o seu cabelo veludo e pele de bebé, e salivou.

Pankaj regressou em 10 minutos, e viu Suraiya sentada na sala.
- “Chegaste cedo hoje. Estás muito contente, menina.”
Ela conseguiu dar a sua atenção completa à discussão e dormiu muito bem àquela noite. Ela não disse a Prafful o que fizera mas ele reparou a mudança nela. Porém, Pankaj também reparou a mudança no seu irmão. Sohan não queria sair com os seus amigos e tinha medo das raparigas. Ele começou dormir no quarto de Pankaj e tinha medo da sua cama. Pankaj perdeu a paciência um dia quando uma prima abraçou Sohan e ele gritou e chorou. Pankaj levou Sohan ao seu quarto, fê-lo sentar na sua cama e falar. E finalmente Sohan contou-lhe como ele foi molestado por Suraiya quando Pankaj saíra por 10 minutos.
- “Por amor de Deus, Sohan, porque é não me disseste àquele dia mesmo?!”
- “Dada, eu estava muito nervoso e confuso. Só depois dalgum tempo eu percebi o que acontecera.”
- “Não te preocupes, ela há-de pagar para isso. Mas primeiro, vou informar Momma e Papa. E após, ligarei a polícia.”

Suraiya acordou ao som do sirene da polícia a manhã seguinte. Ela abriu a porta quando os seus pais olharam em horror. Um polícia aproximou-a.
- “Tu és Suraiya? Vem connosco à esquadra. Tu estás presa pelo abuso sexual duma criança.”
Suraiya olhou ao polícia, e depois aos pais.
- “Não o nego, Sr Polícia. Sim, molestei um rapaz de 12 anos. Eu estou apaixonada com ele. Vamos?”
E Prafful, que morava no prédio vizinho, só pôde olhar desamparadamente quando ele viu a sua amiga de alma entrar o jipe de polícia.

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